domingo, 18 de setembro de 2011

A Galinha Ruiva

                                                                 (lenda do Folclore Inglês)



Era uma vez uma galinha ruiva, que morava com  seus pintinhos numa fazenda.
Um dia ela percebeu que o milho estava maduro, pronto para ser colhido e virar um bom alimento.
A galinha ruiva teve a idéia de fazer um delicioso bolo de milho. Todos iam gostar!
Era muito trabalho: ela precisava de bastante milho para o bolo.
Quem podia ajudar a colher a espiga de milho no pé?
Quem podia ajudar a debulhar todo aquele milho?
Quem podia ajudar a moer o milho para fazer a farinha de milho para o bolo?
Foi pensando nisso que a galinha ruiva encontrou seus amigos:
- Quem pode me ajudar a colher o milho para fazer um delicioso bolo? - Eu é que não, disse o gato. Estou com muito sono.
- Eu é que não, disse o cachorro. Estou muito ocupado.
- Eu é que não, disse o porco. Acabei de almoçar.
- Eu é que não, disse a vaca. Está na hora de brincar lá fora.
Todo mundo disse não.
Então, a galinha ruiva foi preparar tudo sozinha: colheu as espigas, debulhou o milho, moeu a farinha, preparou o bolo e colocou no forno.
Quando o bolo ficou pronto ...
Aquele cheirinho bom de bolo foi fazendo os amigos se chegarem. Todos ficaram com água na boca.
Então a galinha ruiva disse:
- Quem foi que me ajudou a colher o milho, preparar o milho, para fazer o bolo?
Todos ficaram bem quietinhos. ( Ninguém tinha ajudado.)
- Então quem vai comer o delicioso bolo de milho sou eu e meus pintinhos, apenas. Vocês podem continuar a descansar olhando.
E assim foi: a galinha e seus pintinhos aproveitaram a festa, e nenhum dos preguiçosos foi convidado

cachinhos dourados e os três ursos



Esta é uma menina peralta. Basta que sua mãe dêscuide um pouco, e ela foge de casa! Como mora na floresta, vive a explorar a mata, e sabe-se lá onde por onde anda...
Hoje, ela aprenderá uma grande lição.
Era uma vez, uma família de ursinhos; o Papai Urso, a Mamãe Urso e o Bebê Urso.
Eles moravam numa linda casinha, no meio da floresta.
O Papai Urso era o maior de todos e tinha uma voz muito grossa. A Mamãe Urso era um pouco menor e tinha uma vozinha meiga. O Bebê urso era o menorzinho e sua voz era fininha.
Um dia, pela manhã, quando se levantaram, iam tomar mingau, mas a Mamãe Ursa disse: 

- Este mingau está muito quente para ser tomado agora. Vamos dar uma voltinha na floresta enquanto ele esfria, na volta a gente toma. 

Deixaram o mingau nas suas tigelinhas e sairam.

Enquanto eles estavam fora, apareceu uma menina chamada Cachinhos Dourados, que morava do outro lado da floresta e tinha o mau costume de fugir de casa. 

Quando viu a casinha dos ursinhos, achou-a muito bonitinha. Aproximou-se e bateu à porta. 

Como ninguém respondeu, ela então meteu a mão na porta e entrou.

Assim que entrou, logo à sua frente, na mesa da cozinha, ela avistou as tigelinhas de mingau. Olhou em volta, não viu ninguém, e então disse:
- Ôba, acho que alguém estava me esperando. Esse mingau parece delicioso!
Provou o mingau da tigela maior, mas achou-o muito quente. 

Provou o mingau da tigela do meio, e achou-o muito frio. 

Então provou o da tigelinha menor, e achou-o ótimo. 

Por isto, comeu todo mingau que havia nela.

Depois, passou à sala, onde encontrou três cadeiras: uma grande e achou-a muito dura. 

Sentou-se na cadeira do meio e achou-a macia demais. 

Sentou-se na cadeirinha menor e achou-a muito confortável. 

Mas, sentou-se com tamanha falta de modos que a quebrou em pedaços.



Depois, Cachinhos Dourados foi ao quarto dos ursinhos. Lá dentro havia três camas: uma grande, uma menor e uma menorzinha ainda. 

Deitou-se na cama maior e achou-a muito dura. Deitou-se na do meio e achou-a macia demais. Deitou-se na pequenininha e achou-a muito boa. 

Ali ficou quietinha e acabou pegando no sono.


Enquanto ela dormia, os ursinhos voltaram do passeio. Foram logo à cozinha para tomar o mingau e, com surpresa, notaram que alguém tinha estado ali. Papai Urso perguntou com sua voz grossa: 
- Quem mexeu no meu mingau? 

Mamãe Ursa perguntou com sua voz meiga: 
- Quem provou o meu mingau? 

Bebê Urso, com sua voz fininha, chorando, perguntou: 
- Quem comeu o meu mingau?



Os três ursinhos foram à sala. Papai Urso olhou para sua cadeira e exclamou: 
- Alguém sentou na minha cadeira!

Mamãe Ursa, com sua voz meiga, reclamou: 
- Alguém também sentou na minha cadeira! 

Bebê Urso, chorando, queixou-se: 
- Alguém quebrou a minha cadeirinha!

Foram andando para o quarto. Papai Urso olhou para sua cama e perguntou: 
- Quem esteve deitado na minha cama? 

Mamãe Ursa olhou para sua cama e disse: 
- Alguém esteve deitado na minha cama! 

Bebê Urso, com sua voz fininha, gritou: 
- Alguém está deitado na minha caminha!

Cachinhos Dourados acordou com o grito de Bebê Urso. 

Ficou assustadíssima quando viu os três ursinhos no quarto. 

Saltou da cama, correu pelo quarto, pulou a janela e continou correndo pela floresta, tão depressa quanto suas pernas podiam. 

E, daí por diante, nunca mais ela fugiu de casa.


domingo, 11 de setembro de 2011

Cinderela



Adaptado do conto dos Irmãos Grimm



Era uma vez um homem cuja primeira esposa
tinha morrido, e que tinha casado novamente com uma mulher muito
arrogante. Ela tinha duas filhas que se pareciam em tudo com ela.
O homem tinha uma filha de seu primeiro casamento. Era uma moça
meiga e bondosa, muito parecida com a mãe.
A nova esposa mandava a jovem fazer os serviços mais sujos da
casa e dormir no sótão, enquanto as “irmãs” dormiam em
quartos com chão encerado.
Quando o serviço da casa estava terminado, a pobre moça
sentava-se junto à lareira, e sua roupa ficava suja de cinzas. Por
esse motivo, as malvadas irmãs zombavam dela. Embora Cinderela
tivesse que vestir roupas velhas, era ainda cem vezes mais bonita
que as irmãs, com seus vestidos esplêndidos.
O rei mandou organizar um baile para que seu filho escolhesse uma
jovem para se casar, e mandou convites para todas as pessoas
importantes do reino. As duas irmãs ficaram contentes e só
pensavam na festa. Cinderela ajudava. Ela até lhes deu os melhores
conselhos que podia e se ofereceu para arrumá-las para o evento.
As irmãs zombavam de Cinderela, e diziam que ela nunca poderia ir
ao baile.
Finalmente o grande dia chegou. A pobre Cinderela viu a madrasta
e as irmãs saírem numa carruagem em direção ao palácio, em seguida
sentou-se perto da lareira e começou a chorar.
Apareceu diante dela uma fada, que disse ser sua fada madrinha, e
ao ver Cinderela chorando, perguntou: “Você gostaria de ir
ao baile, não é?”
“Sim”, suspirou Cinderela.
“Bem, eu posso fazer com que você vá ao baile”, disse
a fada madrinha.
Ela deu umas instruções esquisitas à moça: “Vá ao jardim e
traga-me uma abóbora.” Cinderela trouxe e a fada madrinha
esvaziou a abóbora até ficar só a casca. Tocou-a com a varinha
mágica e a abóbora se transformou numa linda carruagem dourada!
Em seguida a fada madrinha transformou seis camundongos em cavalos lindos, tocando-os com sua varinha mágica. Escolheu também
uma rato que tivesse o bigode mais fino para ser o cocheiro mais bonito do mundo. Então ela disse a Cinderela, “Olhe atrás do regador. Você encontrará seis lagartos ali. Traga-os aqui.”
Cinderela nem bem acabou de trazê-los e a fada madrinha
transformou-os em lacaios. Eles subiram atrás da carruagem, com
seus uniformes de gala, e ficaram ali como se nunca tivessem feito
outra coisa na vida.
Quanto a Cinderela, bastou um toque da varinha mágica para
transformar os farrapos que usava num vestido de ouro e prata,
bordado com pedras preciosas. Finalmente, a fada madrinha lhe deu
um par de sapatinhos de cristal.
Toda arrumada, Cinderela entrou na carruagem. A fada madrinha
avisou que deveria estar de volta à meia-noite, pois o encanto
terminaria ao bater do último toque da meia-noite.
O filho do rei pensou que Cinderela fosse uma princesa
desconhecida e apressou-se a ir dar-lhe as boas vindas. Ajudou-a a
descer da carruagem e levou-a ao salão de baile. Todos pararam e
ficaram admirando aquela moça que acabara de chegar.
O príncipe estava encantado, e dançou todas as músicas com
Cinderela. Ela estava tão absorvida com ele, que se esqueceu
completamente do aviso da fada madrinha. Então, o relógio do
palácio começou a bater doze horas. A moça se lembrou do aviso da
fada e, num salto, pôs-se de pé e correu para o jardim.
O príncipe foi atrás mas não conseguiu alcançá-la. No entanto, na
pressa ela deixou cair um dos seus elegantes sapatinhos de
cristal.
Cinderela chegou em casa exausta, sem carruagem ou os lacaios e
vestindo sua roupa velha e rasgada. Nada tinha restado do seu
esplendor, a não ser o outro sapatinho de Cristal.
Mais tarde, quando as irmãs chegaram em casa, Cinderela
perguntou-lhes se tinham se divertido. As irmãs, que não tinham
percebido que a princesa desconhecida era Cinderela, contaram tudo
sobre a festa, e como o príncipe pegara o sapatinho que tinha
caído e passou o resto da noite olhando fixamente para ele,
definitivamente apaixonado pela linda desconhecida.
As irmãs tinham contado a verdade, pois alguns dias depois o
filho do rei anunciou publicamente que se casaria com a moça em
cujo pé o sapatinho servisse perfeitamente.
Embora todas as princesas, duquesas e todo resto das damas da
corte tivessem experimentado o sapatinho, ele não serviu em
nenhuma delas.
Um mensageiro chegou à casa de Cinderela trazendo o sapatinho.
Ele deveria calçá-lo em todas as moças da casa. As duas tentaram
de todas as formas calçá-lo, em vão.
Então, Cinderela sorriu e disse, “Eu gostaria de
experimentar o sapatinho para ver se me serve!”
As irmãs riram e caçoaram dela, mas o mensageiro tinha recebido
ordens para deixar todas as moças do reino experimentarem o
sapatinho. Então, fez Cinderela sentar-se e, para surpresa de
todos, o sapatinho serviu-lhe perfeitamente!
As duas irmãs ficaram espantadas, mas ainda mais espantadas
quando Cinderela tirou o outro sapatinho de cristal do bolso e
calçou no outro pé.
Nesse momento, surgiu a fada madrinha, que tocou a roupa de
Cinderela com a varinha mágica. Imediatamente os farrapos se
transformaram num vestido ainda mais bonito do que aquele que
havia usado antes.
A madrasta e suas filhas reconheceram a linda
“princesa” do baile, e caíram de joelhos implorando
seu perdão, por todo sofrimento que lhe tinham causado.
Cinderela abraçou-as e disse-lhes que perdoava de todo o coração.
Em seguida, no seu vestido esplêndido, ela foi levada à presença
do príncipe, que aguardava ansioso sua amada.
Alguns dias mais tarde, casaram-se e viveram felizes para
sempre.

Aladim e a Lampada



"Aladim era filho de um pobre alfaiate que vivia numa cidade da China. Quando seu pai morreu, ele era muito jovem, e sua mãe teve que fiar algodão, dia e noite, para sustentá-lo. Um dia, quando tinha mais ou menos quinze anos, estava brincando na rua, com alguns companheiros. Um estranho que passava parou para olhá-lo. Era um mágico africano que necessitava da ajuda de um jovem. Percebeu logo que Aladim era exatamente quem ele procurava.

Primeiro, o mágico indagou das pessoas que estavam ali, quem era o menino. Depois, dirigiu-se a ele e disse:

- Meu rapaz, você não é filho de Mustafá, o alfaiate?

- Sim, senhor, mas meu pai morreu há muito tempo, respondeu o rapaz.

Ao ouvir estas palavras, o mágico abraçou Aladim, com os olhos cheios de lágrimas, e disse:

- Você é meu sobrinho, pois seu pai era meu irmão. Eu o conheci à primeira vista, porque você é muito parecido com ele.

O homem deu duas moedas de ouro a Aladim, dizendo:

- Vá para casa e diga à sua mãe que irei jantar com vocês.

Encantado com o dinheiro, Aladim correu para casa.

- Mamãe, eu tenho algum tio? perguntou ele.

- Não, meu filho. Seu pai não tinha irmãos e eu também não os tenho, respondeu a senhora.

- Acabo de encontrar um senhor que me disse ser irmão de papai. Deu-me este dinheiro e mandou dizer-lhe que jantaria aqui hoje.

A senhora ficou muito admirada, mas saiu para fazer compras e passou o dia preparando o jantar. Exatamente quando tudo ficou pronto, o mágico bateu à porta. Entrou trazendo embrulhos de frutas e doces. Cumprimentou a mãe de Aladim e, com lágrimas nos olhos, pediu-lhe que indicasse o lugar em que o irmão costumava sentar-se. Durante o jantar, pôs-se a descrever suas viagens.

- Minha boa irmã, começou ele. Não me admiro de que você nunca me tivesse visto. Estive quarenta anos fora deste país. Viajei por muitos lugares. Estou realmente triste por saber da morte de meu irmão, mas é um conforto saber que ele deixou um filho tão encantador!! Virando-se para Aladim, perguntou-lhe:

- Que faz você? Trabalha no comércio?

Aladim abaixou a cabeça, sem ter o que dizer. Sua mãe, então, explicou:

- Infelizmente ele nada faz. Passa os dias desperdiçando o tempo a brincar na rua.

- Isto não vai bem , meu sobrinho, disse o mágico. É preciso pensar num meio de ganhar a vida. Eu gostaria de ajudá-lo. Se você quiser, abrirei uma loja para você.

Aladim ficou muito contente com a idéia. Disse ao mágico que não havia nada que o encantasse mais.

- Bem, resolveu o homem. Amanhã sairemos e comprar-lhe-ei roupas elegantes. Depois, então, pensaremos na loja.

No dia seguinte, ele voltou, como havia prometido, e levou Aladim a uma casa que vendia roupas lindas. O menino escolheu as que mais lhe agradaram. Depois deram um passeio pela cidade. À noite, foram a uma festa. Quando a mãe de Aladim o viu voltar tão elegante e o ouviu contar tudo que haviam feito, ficou muito contente.

- Bondoso irmão, disse ao mágico, não sei como agradecer-lhe tanta bondade.

- Aladim é um bom rapaz, disse ele, e bem merece que se faça tudo por ele. Algum dia nos orgulharemos dele. Amanhã virei buscá-lo, para dar um passeio no campo. Depois de amanhã, então, abriremos a loja.

No dia seguinte, Aladim levantou-se muito cedo e foi ao encontro do tio. Andaram muito até que chegaram a uma fonte de água clara. O mágico abriu um embrulho de frutas e bolos. Quando acabaram de comer, continuaram a andar até que chegaram a um vale estreito, cercado de montanhas. Era este o lugar que o homem esperava encontrar. Ali havia levado Aladim por um motivo secreto.

- Não iremos adiante, comunicou ao rapaz. Mostrarei a você algumas coisas que ninguém ainda viu. Enquanto risco um fósforo, cate todos os gravetos que encontrar para acender o fogo.

Aladim num instante arranjou um pilha de gravetos, aos quais o mágico atiçou fogo. Quando as chamas cresceram, atirou-lhes um pouco de incenso e pronunciou umas palavras mágicas que Aladim não entendeu. Imediatamente a terra se abriu a seus pés e apareceu uma grande pedra, em cuja parte superior havia uma argola de ferro. Aladim estava tão assustado que teria fugido se o mágico não o detivesse.

- Se você me obedecer, não se arrependerá. Debaixo desta pedra está escondido um tesouro que o fará mais rico do que todos os reis do mundo. Você deverá, entretanto, fazer exatamente o que eu digo, para conseguí-lo.

O medo de Aladim desapareceu e ele declarou ao tio:

- Que tenho a fazer? Estou pronto a obedecer.

- Segure a argola e levante a pedra, disse o homem.

Aladim fez o que o mágico havia dito. Suspendeu a pedra e deixou-a de lado. Apareceu uma escada que conduzia a uma porta.

- Desça estes degraus e abra aquela porta, ordenou o mágico. Você entrará num palácio onde há três enormes salões. Em cada um deles verá quatro vasos cheios de ouro e prata. Não mexa em nenhum deles. Passe através dos três salões sem parar. Tenha cuidado para não se encostar nas paredes. Se o fizer, morrerá instantâneamente. No fim do terceiro salão, há uma porta que dá para um pomar, onde as árvores estão carregadas de lindas frutas. Atravessando o pomar, você chegará a um muro no qual encontrará um nicho. Nesse nicho, há uma lâmpada acesa. Pegue a lâmpada, jogue fora o pavio e o azeite, e traga-a o mais depressa que puder. Dizendo estas palavras, o mágico tirou do dedo um anel que ofereceu a Aladim, explicando:

- Se você me obedecer, isto o protegerá contra todos os males. Vá, meu filho. Faça tudo o que eu disse e ambos seremos felizes para o resto da vida.

Aladim desceu os degraus e abriu a porta. Encontrou três salões. Atravessou-os cuidadosamente e chegou ao pomar. Foi até o muro e apanhou a lâmpada no nicho. Jogou fora o pavio e o azeite. Finalmente, prendeu a lampada no cinturão. Já estava decidido a voltar, mas, olhando para as árvores, ficou encantado com as frutas. Eram de cores diferentes: brancas, vermelhas, verdes, azuis, roxas, todas cintilantes. Na verdade, não eram frutas, mas pedras preciosas: pérolas, diamantes, rubis, esmeraldas, safiras e ametistas. Aladim, não sabendo seu valor, pensou que eram simples pedaços de vidro. Ficou, entretanto, encantado com as cores e apanhou algumas de cada cor. Encheu os bolsos e também a bolsa de couro que trazia presa ao cinturão. Assim carregado de tesouros, correu pelos salões e logo chegou à boca da caverna. Viu o tio que o esperava no alto da escada e pediu-lhe:

- Dê-me a mão, meu tio, e ajude-me a sair daqui.

- Primeiro, entregue-me a lâmpada, exigiu o mágico.

- Na verdade, não posso fazê-lo agora, pois trago outras coisas que me dificultam a subida, mas assim que estiver aí em cima, entregá-la-ei, explicou Aladim.

O mágico, que estava aflito para possuir a lâmpada, irritou-se e atirou um pouco de incenso ao fogo, pronunciando, depois, algumas palavras mágicas. Imediatamente a pedra voltou ao seu lugar, tapando a saída da estranha caverna. Quando Aladim se viu na escuridão, chamou o mágico e implorou-lhe que o tirasse dali. Prometeu-lhe mil vezes que lhe daria a lâmpada. Seus rogos, entretanto, foram em vão. Desesperado, tentou atingir novamente a porta que conduzia aos salões, para ver se conseguia chegar ao pomar. A porta, porém, estava fechada. Durante dois dias, Aladim permaneceu na escuridão, sem comer, nem beber. Por fim, juntou as mãos para rezar e, ao fazê-lo, esfregou o anel que o mágico tinha posto em seu dedo. No mesmo instante, um gênio, enorme e assustador, surgiu da terra, dizendo:

- Que deseja? Sou o escravo do anel e cumprirei suas ordens.

Aladim replicou:

- Tire-me daqui.

Logo a terra se abriu e ele se encontrou lá fora. Muito artordoado foi andando para casa e, ao chegar, caiu desfalecido junto à porta. Quando voltou a si, contou à mãe o que lhe havia acontecido. Mostrou-lhe a lâmpada e as frutas que tinha trazido. Pediu-lhe, depois, alguma coisa para comer, ao que ela respondeu:

- Meu filho, nada tenho em casa, mas fiei algum algodão e irei vendê-lo.

- Em vez do algodão, mamãe, venda a lâmpada, propôs o menino.

Ela apanhou a lâmpada e começou a esfregá-la, porque estava muito suja. Nesse momento, surgiu um gênio que gritou bem alto:

- Sou o gênio da lâmpada e obedecerei à pessoa que a estiver segurando.

A senhora estava assustada demais para poder falar, mas o menino agarrou-a ousadamente e disse:

- Arranje-me alguma coisa para comer.

O gênio desapareceu e voltou equilibrando na cabeça uma bandeja de prata na qual havia doze pratos, também de prata, cheios das melhores iguarias. Havia ainda dois pratos e dois copos vazios. Colocou a bandeja na mesa e dasapareceu outra vez. Aladim e sua mãe sentaram-se e comeram com grande prazer. Nunca haviam provado comida tão gostosa. Depois de comerem tudo, venderam os pratos, conseguindo, assim, dinheiro que deu para viverem por algum tempo com bastante conforto.

Um dia, quando passeava pela cidade, Aladim ouviu uma ordem do sultão mandando que fechassem as lojas e saíssem todos das ruas, pois sua filha, a princesa, ia ao banho de mar e não podia ser vista por ninguém. O rapaz escondeu-se atrás de uma porta, de onde podia ver a princesa quando passasse. Não decorreu muito tempo e ela veio, acompanhada de uma porção de aias. Quando chegou perto da porta onde Aladim estava escondido, tirou o véu e ele viu seu rosto. A moça era tão bonita que ele desejou casar-se com ela. Chegando a casa contou à mãe seu amor pela princesa. A senhora riu-se e respondeu:

- Meu filho, você deve estar louco para pensar numa coisa destas!

- Não estou louco, mamãe, e pretendo pedir a mão da princesa ao sultão. Você deve procurá-lo para fazer o pedido, disse ele.

- Eu??? Dirigir-me ao sultão??? Você sabe muito bem que ninguém pode falar-lhe sem levar um rico presente, informou a senhora.

- Bem, vou contar-lhe um segredo. Aquelas frutas que trouxe da caverna não são simples pedaços de vidro. São jóias de grande valor. Tenho olhado pedras preciosas nas joalherias e nenhuma é tão grande, nem tem o brilho das minhas. A oferta delas, estou certo, comprará o favor do sultão.

Aladim trouxe as pedras da cômoda onde as tinha escondido e sua mãe colocou-as num prato de porcelana. A beleza de suas cores assombrou a senhora, que ficou certa de que o presente não poderia deixar de agradar ao sultão. Ela cobriu o prato e as jóias com um bonito pano de linho e saiu para o palácio. A multidão daqueles que tinham negócios na corte era grande. As portas estavam abertas e ela foi entrando. Colocou-se em frente ao sultão. Ele, entretanto, não tomou conhecimento de sua presença. Durante uma semana, ela foi lá diariamente, ocupando sempre o mesmo lugar. Afinal, ele viu-a e perguntou o que desejava. Tremendo, a boa mulher falou-lhe sobre a pretensão do filho. O sultão ouviu-a amavelmente e perguntou-lhe o que trazia na mão. Ela tirou o guardanapo de cima do prato e mostrou-lhe as jóias cintilantes. Que surpresa teve ele ao ver tais maravilhas! Durante muito tempo, contemplou-as sem dizer nada. Depois exclamou:

- Que riqueza! Que encanto!

Ele já havia determinado que a filha se casaria com um de seus oficiais; no entanto, disse à mãe de Aladim:

- Diga a seu filho que ele desposará a princesa se me enviar quarenta tinas cheias de jóias como estas. Elas deverão ser-me entregues por quarenta escravos negros, cada um dos quais será precedido de um escravo branco, todos ricamente vestidos.

A mãe de Aladim curvou-se até o chão e voltou para casa pensando que tudo estivesse perdido. Deu o recado ao filho esperando que, com isso, ele desistisse. Aladim sorriu, e quando a mãe se afastou, apanhou a lâmpada e esfregou-a. O gênio apareceu no mesmo instante e ele pediu-lhe que arranjasse tudo que o sultão havia pedido. O gênio desapareceu e voltou trazendo quarenta escravos negros, cada um carregando na cabeça uma tina cheia de pérolas, rubis, diamantes, esmeraldas, safiras e ametistas. Os quarenta escravos negros e outros tantos brancos encheram a casa e o jardim. Aladim ordenou-lhes que se dirigissem ao palácio, dois a dois, e pediu à sua mãe que entregasse o presente ao sultão. Os escravos estavam tão ricamente vestidos que todos, nas ruas, paravam para vê-los. Entraram no palácio e ajoelharam-se em frente ao sultão, formando um semi-círculo. Os escravos negros colocaram as tinas no tapete.

O espanto do sultão, à vista daquelas riquezas, foi indescritível. Depois de muito contemplá-las, levantou-se e disse à mãe de Aladim:

- Diga a seu filho que o espero de braços abertos.

A senhora, feliz com a notícia, não perdeu tempo. Saiu correndo e deu o recado ao filho. Aladim, entretanto, não teve pressa. Primeiro chamou o gênio e pediu-lhe:

- Desejo um banho perfumado, uma roupa luxuosa, um cavalo tão bonito quanto o do sultão, vinte escravos e, além disso, vinte mil moedas de ouro distribuídas em vinte bolsas. Tudo isso apareceu imediatamente à sua frente. Aladim, elegantemente vestido e montado num lindo cavalo, passou pelas ruas, causando admiração a todos. Os escravos marchavam a seu lado, cada um carregando uma bolsa cheia de moedas de ouro, para distribuir pelo povo. Quando o sultão viu aquele belo rapaz, saiu do trono para recebê-lo. À noite ofereceu-lhe uma grande festa. Ele desejava que Aladim se casasse logo com a filha, mas este lhe disse:

- Primeiro, construirei um palácio para ela.

Assim que regressou à casa, chamou o gênio e disse:

- Dê-me um palácio do mais fino mármore, incrustado de pedras preciosas. Nele quero encontrar estábulos, cocheiras, lacaios, escravos. A mais fina decoração, com os móveis mais luxuosos do mundo.

O casamento de Aladim com a princesa realizou-se no meio de grande regozijo. O rapaz já havia conquistado o coração do povo, por sua generosidade. Durante muito tempo eles foram imensamente felizes. Nesta ocasião, o mágico que estava na África descobriu que Aladim era muito rico e querido de todos. Cheio de raiva, embarcou para a China. Lá chegando, ouviu algúem falar do palácio maravilhoso que tinha sido levantado pelo gênio da lâmpada. Resolveu, então, obter a lâmpada, custasse o que custasse. Os mercadores contaram-lhe que Aladim tinha ido caçar e que estaria ausente por alguns dias. Ele comprou uma dúzia de lâmpadas de cobre, iguais à lâmpada maravilhosa, e foi ao palácio gritando:

- Trocam-se lâmpadas novas por velhas!

Quando chegou à janela da princesa, os escravos chamaram-no, dizendo:

- Venha cá. Temos uma lâmpada feia e velha que queremos trocar.

Era a lâmpada maravilhosa, que Aladim havia deixado em cima de um móvel. A princesa não sabia seu valor; por isso, pediu a um escravo que a trocasse por uma nova. O mágico, muito contente, deu-lhe a melhor lâmpada que tinha, e saiu correndo para a floresta. Quando anoiteceu, chamou o gênio da lâmpada e ordenou que o palácio, a princesa e ele próprio fossem carregados para a África.

O pesar do sultão foi terrível quando descobriu que a filha e o palácio tinham desaparecido. Enviou soldados à procura de Aladim, que foi trazido à sua presença.

- Pouparei sua vida por quarenta dias e quarenta noites, lhe informou o sultão. Se durante este tempo minha filha não aparecer, mandarei cortar-lhe a cabeça.

Aladim vagou por toda a cidade, perguntando às pessoas que encontrava o que havia acontecido ao seu palácio. Ninguém sabia dar-lhe informação . Depois de muito andar, parou num riacho para matar a sede. Abaixou-se e juntou as mãos para apanhar um pouco de água. Ao fazê-lo, esfregou o anel mágico que trazia no dedo. O gênio do anel apareceu e perguntou-lhe o que queria.

- Ó gênio poderoso, devolve-me minha esposa e meu palácio! Implorou ele.

- Isto não está em meu poder, disse o gênio. Peça-o ao gênio da lâmpada. Sou apenas o gênio do anel.

- Então, pediu Aladim, leva-me até onde estiver o palácio.

Imediatamente, o rapaz sentiu-se carregado pelos ares. Finalmente chegou a um país estranho, onde logo avistou o palácio. A princesa estava chorando em seu quarto. Quando viu Aladim, ficou muito contente. Correu ao seu encontro e contou-lhe tudo o que havia acontecido. Aladim, ao ouvir falar na troca das lâmpadas, percebeu logo que o mágico era o causador de toda aquela aflição.

- Diga-me uma coisa, perguntou à esposa, onde está a lâmpada velha agora?

- O velho carrega-a no cinturão e não se separa dela noite e dia.

Depois de muito conversarem, fizeram um plano para conseguir a lâmpada de volta.

Aladim foi à cidade e comprou um pó que fazia a pessoa dormir instantaneamente. A princesa convidou o mágico para jantar em sua companhia. Enquanto comiam os primeiros pratos, ela pediu a um criado que lhe trouxesse dois copos de vinho, que ela havia preparado. O mágico, encantado com tanta gentileza, bebeu o vinho no qual ela havia derramado certa quantidade do pó. Suas idéias foram ficando meio confusas e ele pegou no sono.

Aladim, que estava escondido atrás de uma cortina, veio depressa e apanhou a lâmpada do cinturão do velho. Depois mandou que os empregados o carregassem para fora do palácio e o deixassem bem longe dali. A seguir, esfregou a lâmpada e, quando o gênio apareceu, pediu-lhe que levasse o palácio de volta para a China. Algumas horas mais tarde, o sultão olhando pela janela, viu o palácio de Aladim brilhando ao sol. Mandou, então, dar uma festa que durou uma semana.

O mágico, quando acordou no dia seguinte e se viu no meio da rua sem a lâmpada, ficou desesperado. Levantou-se e foi andando, tão distraído que não viu uma carruagem que se aproximava. O resultado foi que morreu debaixo das patas dos cavalos. Aladim e a esposa viveram felizes pelo resto da vida. Quando o sultão morreu, Aladim subiu ao trono e reinou por muitos anos, sendo sempre querido do povo."


sábado, 10 de setembro de 2011

A bela adormecida

(Irmãos Grimm)
Era uma vez, há muito tempo, um rei e uma rainha            jovens, poderosos e ricos, mas pouco felizes,                          porque não tinham concretizado maior sonho  deles: terem filhos.
— Se pudéssemos ter um filho! — suspirava o rei.
— E se Deus quisesse, que nascesse uma menina! —animava-se a rainha.
— E por que não gêmeos? — acrescentava o rei.
Mas os filhos não chegavam, e o casal real ficava cada vez mais triste. Não se alegravam nem com os bailes da corte, nem com as caçadas, nem com os gracejos dos bufões, e em todo o castelo reinava uma grande melancolia.
Mas, numa tarde de verão, a rainha foi banhar-se no riacho que passava no fundo do parque real. E, de repente, pulou para fora da água uma rãzinha.
— Majestade, não fique triste, o seu desejo se realizará logo: Antes que passe um ano a senhora dará à luz uma menina.
E a profecia da rã se concretizou, e meses depois a rainha deu a luz a uma linda menina.
O rei, que estava tão feliz, deu uma grande festa de batizado para a pequena princesa que se chamava Aurora.
Convidou uma multidão de súditos: parentes, amigos, nobres do reino e, como convidadas de honra, as treze fadas que viviam nos confins do reino. Mas, quando os mensageiros iam saindo com os convites, o camareiro-mor correu até o rei, preocupadíssimo.
— Majestade, as fadas são treze, e nós só temos doze pratos de ouro. O que faremos? A fada que tiver de comer no prato de prata, como os outros convidados, poderá se ofender. E uma fada ofendida…
O rei refletiu longamente e decidiu:
— Não convidaremos a décima terceira fada — disse, resoluto. — Talvez nem saiba que nasceu a nossa filha e que daremos uma festa. Assim, não teremos complicações.
Partiram somente doze mensageiros, com convites para doze fadas, conforme o rei resolvera.
No dia da festa, cada uma das fadas chegou perto do berço em que dormia a princesa Aurora e ofereceu à recém-nascida um presente maravilhoso.
— Será a mais bela moça do reino — disse a primeira fada, debruçando-se sobre o berço.
— E a de caráter mais justo — acrescentou a segunda.
— Terá riquezas a perder de vista — proclamou a terceira.
— Ninguém terá o coração mais caridoso que o seu — afirmou a quarta.
— A sua inteligência brilhará como um sol — comentou a quinta.
Onze fadas já tinham passado em frente ao berço e dado a pequena princesa um dom; faltava somente uma (entretida em tirar uma mancha do vestido, no qual um garçom desajeitado tinha virado uma taça de sorvete) quando chegou a décima terceira, aquela que não tinha sido convidada por falta de pratos de ouro.
Estava com a expressão muito sombria e ameaçadora, terrivelmente ofendida por ter sido excluída. Lançou um olhar maldoso para a princesa Aurora, que dormia tranqüila, e disse: — Aos quinze anos a princesa vai se ferir com o fuso de uma roca e morrerá.
E foi embora, deixando um silêncio desanimador e os pais desesperados.
Então aproximou-se a décima segunda fada, que devia ainda oferecer seu presente.
— Não posso cancelar a maldição que agora atingiu a princesa. Tenho poderes só para modificá-la um pouco. Por isso, Aurora não morrerá; dormirá por cem anos, até a chegada de um príncipe que a acordará com um beijo.
Passados os primeiros momentos de espanto e temor, o rei, decidiu tomar providências, mandou queimar todas as rocas do reino. E, daquele dia em diante, ninguém mais fiava, nem linho, nem algodão, nem lã. Ninguém além da torre do castelo.
Aurora crescia, e os presentes das fadas, apesar da maldição, estavam dando resultados. Era bonita, boa, gentil e caridosa, os súditos a adoravam.
No dia em que completou quinze anos, o rei e a rainha estavam ausentes, ocupados numa partida de caça. Talvez, quem sabe, em todo esse tempo tivessem até esquecido a profecia da fada malvada.
A princesa Aurora, porém, estava se aborrecendo por estar sozinha e começou a andar pelas salas do castelo. Chegando perto de um portãozinho de ferro que dava acesso à parte de cima de uma velha torre, abriu-o, subiu a longa escada e chegou, enfim, ao quartinho.
Ao lado da janela estava uma velhinha de cabelos brancos, fiando com o fuso uma meada de linho. A garota olhou, maravilhada. Nunca tinha visto um fuso.
— Bom dia, vovozinha.
— Bom dia a você, linda garota.
— O que está fazendo? Que instrumento é esse?
Sem levantar os olhos do seu trabalho, a velhinha respondeu com ar bonachão:
— Não está vendo? Estou fiando!
A princesa, fascinada, olhava o fuso que girava rapidamente entre os dedos da velhinha.
— Parece mesmo divertido esse estranho pedaço de madeira que gira assim rápido. Posso experimentá-lo também? Sem esperar resposta, pegou o fuso. E, naquele instante, cumpriu-se o feitiço. Aurora furou o dedo e sentiu um grande sono. Deu tempo apenas para deitar-se na cama que havia no aposento, e seus olhos se fecharam.
Na mesma hora, aquele sono estranho se difundiu por todo o palácio.
Adormeceram no trono o rei e a rainha, recém-chegados da partida de caça.
Adormeceram os cavalos na estrebaria, as galinhas no galinheiro, os cães no pátio e os pássaros no telhado.
Adormeceu o cozinheiro que assava a carne e o servente que lavava as louças; adormeceram os cavaleiros com as espadas na mão e as damas que enrolavam seus cabelos.
Também o fogo que ardia nos braseiros e nas lareiras parou de queimar, parou também o vento que assobiava na floresta. Nada e ninguém se mexia no palácio, mergulhado em profundo silêncio.
Em volta do castelo surgiu rapidamente uma extensa mata. Tão extensa que, após alguns anos, o castelo ficou oculto.
Nem os muros apareciam, nem a ponte levadiça, nem as torres, nem a bandeira hasteada que pendia na torre mais alta.
Nas aldeias vizinhas, passava de pai para filho a história da princesa Aurora, a bela adormecida que descansava, protegida pelo bosque cerrado. A princesa Aurora, a mais bela, a mais doce das princesas, injustamente castigada por um destino cruel. 
Contos, fabulas e historinhas: A Bela Adormecida
Alguns cavalheiros, mais audaciosos, tentaram sem êxito chegar ao castelo. A grande barreira de mato e espinheiros, cerrada e impenetrável, parecia animada por vontade própria: os galhos avançavam para cima dos coitados que tentavam passar: seguravam-nos, arranhavam-nos até fazê-los sangrar, e fechavam as mínimas frestas.
Aqueles que tinham sorte conseguiam escapar, voltando em condições lastimáveis, machucados e sangrando. Outros, mais teimosos, sacrificavam a própria vida.
Um dia, chegou nas redondezas um jovem príncipe, bonito e corajoso. Soube pelo bisavô a história da bela adormecida que, desde muitos anos, tantos jovens a procuravam em vão alcançar.
— Quero tentar também — disse o príncipe aos habitantes de uma aldeia pouco distante do castelo.
Aconselharam-no a não ir. — Ninguém nunca conseguiu!
— Outros jovens, fortes e corajosos como você, falharam…
— Alguns morreram entre os espinheiros…
— Desista!
Muitos foram, os que tentarem desanimá-lo.
No dia em que o príncipe decidiu satisfazer a sua vontade se completavam justamente os cem anos da festa do batizado e das predições das fadas. Chegara, finalmente, o dia em que a bela adormecida poderia despertar.
Quando o príncipe se encaminhou para o castelo viu que, no lugar das árvores e galhos cheios de espinhos, se estendiam aos milhares, bem espessas, enormes carreiras de flores perfumadas. E mais, aquela mata de flores cheirosas se abriu diante dele, como para encorajá-lo a prosseguir; e voltou a se fechar logo, após sua passagem.
O príncipe chegou em frente ao castelo. A ponte elevadiça estava abaixada e dois guardas dormiam ao lado do portão, apoiados nas armas. No pátio havia um grande número de cães, alguns deitados no chão, outros encostados nos cantos; os cavalos que ocupavam as estrebarias dormiam em pé.
Nas grandes salas do castelo reinava um silêncio tão profundo que o príncipe ouvia sua própria respiração, um pouco ofegante, ressoando naquela quietude. A cada passo do príncipe se levantavam nuvens de poeira.
Salões, escadarias, corredores, cozinha… Por toda parte, o mesmo espetáculo: gente que dormia nas mais estranhas posições.
O príncipe perambulou por longo tempo no castelo. Enfim, achou o portãozinho de ferro que levava à torre, subiu a escada e chegou ao quartinho em que dormia A princesa Aurora.
A princesa estava tão bela, com os cabelos soltos, espalhados nos travesseiros, o rosto rosado e risonho. O príncipe ficou deslumbrado. Logo que se recobrou se inclinou e deu-lhe um beijo.
Imediatamente, Aurora despertou, olhou par ao príncipe e sorriu.
Todo o reino também despertara naquele instante.
Acordou também o cozinheiro que assava a carne; o servente, bocejando, continuou lavando as louças, enquanto as damas da corte voltavam a enrolar seus cabelos.
O fogo das lareiras e dos braseiros subiu alto pelas chaminés, e o vento fazia murmurar as folhas das árvores. A vida voltara ao normal. Logo, o rei e a rainha correram à procura da filha e, ao encontrá-la, chorando, agradeceram ao príncipe por tê-la despertado do longo sono de cem anos.
O príncipe, então, pediu a mão da linda princesa em casamento que, por sua vez, já estava apaixonada pelo seu valente salvador.
Eles, então, se casaram e viveram felizes para sempre!
Contos, fabulas e historinhas: A Bela Adormecida

A raposa e a cegonha

  A RAPOSA E A CEGONHA 
Um dia a raposa foi visitar a cegonha e convidou-a para jantar.- Vem, anda comer.
Na noite seguinte, a cegonha chegou a casa da raposa.
- Que bem que cheira! – disse a cegonha ao ver a raposa a fazer o jantar.- Vem, anda comer. – disse a raposa, olhando o comprido bico da cegonha e rindo-se para si mesma.
A raposa, que tinha feito uma saborosa sopa, serviu-a em dois pratos rasos e começou a lamber a sua. Mas a cegonha não conseguiu comer: o bico era demasiado comprido e estreito e o prato demasiado plano. Era, porém, demasiado educada para se queixar e voltou para casa cheiinha de fome.
Claro que a raposa achou montes de piada à situação!
A cegonha pensou, voltou a pensar e achou que a raposa merecia uma lição. E convidou-a também para jantar. Fez uma apetitosa e bem cheirosa sopa, tal como a raposa tinha feito. Porém, desta vez serviu-a em jarros muito altos e estreitos, totalmente apropriados para enfiar o seu bico.
- Vem comer, amiga Raposa.
- Anda, vem comer amiga Raposa, a sopa está simplesmente deliciosa. - espicaçou a cegonha, fazendo o ar mais cândido deste mundo.
E foi a vez de a raposa não conseguir comer nada: os jarros eram demasiado altos e muito estreitos. 
- Muito obrigado, amiga Cegonha, mas não tenho fome nenhuma. - respondeu a raposa com um ar muito pesaroso. E voltou para casa de mau humor, porque a cegonha lhe tinha retribuído a partida.
MORAL – Nunca faças aos outros o que não gostas que te façam a ti.

Menina bonita do laço de fita


Era uma vez uma menina linda, linda. 
Os olhos dela pareciam duas azeitonas
pretas, daquelas bem brilhantes.
Os cabelos eram enroladinhos e bem negros, feito fiapos da noite. A pele era
escura e lustrosa, que nem o pêlo da
pantera negra quando pula na chuva.
Ainda por cima, a mãe
gostava de fazer
trancinhas no cabelo dela
e enfeitar com laço de fita colorida. Ela ficava parecendo uma
princesa das Terras da África, ou uma
fada do Reino do Luar.
Do lado da casa dela morava um
coelho branco, de orelha cor-de-rosa,
olhos vermelhos e focinho nervoso
sempre tremelicando. O coelho achava
menina a pessoa mais linda que ele
tinha visto em toda a vida. E pensava:
- Ah, quando eu casar quero ter uma
filha pretinha e linda que nem ela…
Por isso, um dia ele foi até a casa da
menina e perguntou:
Menina bonita do laço de fita, qual
é teu segredo pra ser tão pretinha?
menina não sabia, mas inventou:
- Ah, deve ser porque eu caí na tinta
preta quando era pequenina..
coelho saiu dali, procurou uma lata
de tinta preta e tornou banho nela.
Ficou bem negro, todo contente. Mas
aí veio uma chuva e lavou aquele pretume, ele ficou
branco outra vez.
Então ele voltou lá na casa da menina
e perguntou outra vez:
Menina bonita do laço de fita, qual é
teu segredo pra ser tão pretinha?
menina não sabia, mas inventou:
- Ah, deve ser porque eu tomei muito
café quando era pequenina.
coelho saiu dali e tomou tanto café
que perdeu o sono e passou a noite toda fazendo xixi. Mas não ficou nada
preto.
Então ele voltou lá na casa da
menina e perguntou outra vez:
Menina bonita do laço de
fita, qual é teu segredo pra ser tão
pretinha?
menina não sabia, mas inventou:
- Ah, deve ser porque eu comi muita
jabuticaba quando era pequenina.
coelho saiu dali e se empanturrou de jabuticaba
até ficar pesadão, sem conseguir
sair do 1ugar. O máximo que
conseguiu foi fazer muito cocozinho
preto e redondo feito jabuticaba.
Mas não ficou nada preto.
Por isso, daí a alguns dias ele voltou lá na
casa da menina e perguntou outra vez:
Menina bonita do laço de fita, qual
é teu segredo pra ser tão pretinha?
menina não sabia e já ia inventando
outra coisa, uma história de feijoada, quando a mãe dela,
que era uma E,, mulata linda e risonha, resolveu se  meter e disse:
- Artes de uma avó preta que ela tinha…
Aí o coelho - que era bobinho,
mas nem tanto - viu que a mãe da menina
devia estar mesmo dizendo a verdade, porque
a gente se parece sempre é com os pais, os tios,
os avós e até com os parentes tortos.
E se ele queria ter uma filha pretinha e
linda que nem a menina, tinha era que procurar uma coelha preta para casar.
Não precisou procurar muito.
Logo encontrou uma coelhinha escura
como a noite, que achava aquele
coelho branco uma graça.
Foram namorando, casando e tiveram
uma ninhada de filhotes, que coelho
quando desanda a ter filhote não pára mais.
Tinha coelho pra todo gosto: branco,
bem brancobranco meio cinza,
branco malhado de preto, preto
malhado de branco e até uma coelha
bem pretinha. já se sabe, afilhada da
tal menina bonita que morava na casa
ao lado.
E quando a coelhinha saía, de laço
colorido no pescoço, sempre
encontrava alguém que perguntava:
- Coelha bonita do laço de fita, qual é
teu segredo pra ser tão pretinha?
E ela respondia:
- Conselhos da mãe da minha
madrinha…